domingo, 8 de setembro de 2013

O Barba Azul

Há dentro de nós muitos outros seres, cantos de sombra e luz, aventureiros e predadores...
Um destes "outros de nós", revelado pelas contadoras de histórias, como senha para a compreensão das armadilhas a que nos submetemos, é o predador e sabotador.*
Conhecido como Barba Azul, o personagem que habita o pesadelo de muitas mulheres, isola, amedronta e reprime.
Como ele está dentro de nós, fruto da construção cultural repressora, ora ele irrompe como pensamentos e sentimentos depressivos, moralistas e desencorajadores, ora em personagens reais que acabamos, inconscientemente, trazendo para habitar a nossa vida: parentes repressores, mestres autoritários, amantes violentos, companheiros anuladores.
Quantas mulheres fortes, seguras, audazes se vincularam ou submeteram-se a relações opressivas, a confinamentos existenciais, a mutilações da força criativa, a domesticação e docilização ?
Muitas, inclusive, mantém a dubiedade como perigosa armadilha, que protege afinal, não a si mesmas mas, o predador interno que, disfarçado por uma roupagem externa e retórica de independência e coragem, realiza melhor o seu intento de fragilizar, desencorajar e castigar qualquer arroubo de ousadia.
O Barba Azul ao invés "de alimentar a luz das jovens forças femininas(...) prefere "encher-se de ódio e deseja extinguir as luzes da psique". Geralmente, encarnado por alguém incapaz de construir sua própria trajetória e coragem, arremete-se ferozmente sobre todos os vestígios de luminosidade alheios.
Reconhecer os predadores e as armadilhas do caminho é fundamental, portanto, para aprendermos a nos movimentar com segurança e independência dentro de nossa própria floresta.

(* Inspirado por
Estes, Clarissa P. Mulheres que correm com os Lobos)



domingo, 1 de setembro de 2013

Sombra e Luz

Ela era pura luz radiante contudo, andava meio sombreada. Ele acostumara-se às sombras porém, encantava-se com os vestígios da luz...
Encontraram-se. Mergulharam então, no lusco-fusco. 
Não inteiramente, cada qual a seu modo; não de mãos entrelaçadas mas, com as pontas dos dedos tocadas. 
Com o tempo, ele passou a incomodar-se com o fulgor e a intensidade; ela, para aproximar-se, quase conformou-se com a sombra, o não-dito, o ocultamento...Mas, sombra e luz, partem de pontos opostos e quando ela resolveu caminhar em direção ao sol, a sombra foi ficando para trás, como lembrança pálida de dias de luz...