sábado, 30 de novembro de 2013

Para sonhar, amanhecer ...

Canto 


em Qualquer 

Canto


Ná Ozzetti

Vim cantar sobre essa terra
Antes de mais nada aviso
Trago facão, paixão crua
E bons rocks no arquivo
Tem gente que pira e berra
Eu já canto pio e silvo
Se fosse minha essa rua
O pé de ipê estava vivo
Pro topo daquela serra
Vamos nós dois vídeo e livros
Vou ficar na minha e sua
Isso é mais que bom motivo
Gorjearei pela terra
Para dar e ter alívio
Gorjeando eu fico nua
Entre o choro e o riso
Pintassilga, pomba, mélroa
Águia lá do paraíso
Passarim, mundo da lua
Quando não trino não sirvo
Caso a bela com a fera
Canto porque é preciso
Porque essa vida é árdua
Prá não perder o juízo

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Metades...


Quando se vive pelas metades...
compondo, recortando e tentando encaixar um quebra-cabeças bidimensional, sem profundidade, sem conexão interna, se alguma peça desencaixar, resta um buraco que não se conserta. 
A peça só conecta-se ao quebra-cabeças se também for partida, rompida...
Profundidade e inteireza não se  encaixam. Combinam,  agregam, compõe e transformam.
A equação da inteireza é mais delicada e complexa porém, de resultados inesperados e exuberantes!

domingo, 8 de setembro de 2013

O Barba Azul

Há dentro de nós muitos outros seres, cantos de sombra e luz, aventureiros e predadores...
Um destes "outros de nós", revelado pelas contadoras de histórias, como senha para a compreensão das armadilhas a que nos submetemos, é o predador e sabotador.*
Conhecido como Barba Azul, o personagem que habita o pesadelo de muitas mulheres, isola, amedronta e reprime.
Como ele está dentro de nós, fruto da construção cultural repressora, ora ele irrompe como pensamentos e sentimentos depressivos, moralistas e desencorajadores, ora em personagens reais que acabamos, inconscientemente, trazendo para habitar a nossa vida: parentes repressores, mestres autoritários, amantes violentos, companheiros anuladores.
Quantas mulheres fortes, seguras, audazes se vincularam ou submeteram-se a relações opressivas, a confinamentos existenciais, a mutilações da força criativa, a domesticação e docilização ?
Muitas, inclusive, mantém a dubiedade como perigosa armadilha, que protege afinal, não a si mesmas mas, o predador interno que, disfarçado por uma roupagem externa e retórica de independência e coragem, realiza melhor o seu intento de fragilizar, desencorajar e castigar qualquer arroubo de ousadia.
O Barba Azul ao invés "de alimentar a luz das jovens forças femininas(...) prefere "encher-se de ódio e deseja extinguir as luzes da psique". Geralmente, encarnado por alguém incapaz de construir sua própria trajetória e coragem, arremete-se ferozmente sobre todos os vestígios de luminosidade alheios.
Reconhecer os predadores e as armadilhas do caminho é fundamental, portanto, para aprendermos a nos movimentar com segurança e independência dentro de nossa própria floresta.

(* Inspirado por
Estes, Clarissa P. Mulheres que correm com os Lobos)



domingo, 1 de setembro de 2013

Sombra e Luz

Ela era pura luz radiante contudo, andava meio sombreada. Ele acostumara-se às sombras porém, encantava-se com os vestígios da luz...
Encontraram-se. Mergulharam então, no lusco-fusco. 
Não inteiramente, cada qual a seu modo; não de mãos entrelaçadas mas, com as pontas dos dedos tocadas. 
Com o tempo, ele passou a incomodar-se com o fulgor e a intensidade; ela, para aproximar-se, quase conformou-se com a sombra, o não-dito, o ocultamento...Mas, sombra e luz, partem de pontos opostos e quando ela resolveu caminhar em direção ao sol, a sombra foi ficando para trás, como lembrança pálida de dias de luz...





sábado, 31 de agosto de 2013

Da alquimia do fogo....


Moqueca em capítulos
A história deste prato, na minha cozinha, acompanha os capítulos da descoberta da culinária e gastronomia como um dos prazeres supremos da minha vida…
Desde cedo, me interessei por cozinhar mas, somente aos poucos fui descobrindo o encantamento da alquimia dos ingredientes e alimentos e, no mesmo tempo em que me tornava uma mulher independente, reconstruía em mim o nexo com o feminino e toda a magia ancestral das poções e do fogo.
Assim, a moqueca aparece, primeiro, com a introdução do peixe como ingrediente que, só recentemente se incorpora ao cardápio curitibano, antes sagrado às sextas-feiras santas.
No começo entretanto, a receita desenvolvida era tímida, quase uma peixada com a mistura de tomate, cebola e pimentão, sem muito requinte, nem ousadia.
Mais à frente, com a descoberta de restaurantes praianos (o insuperável Pilequinho, no litoral paranaense…), o leite de coco entra em cena, com sua beleza e cremosidade, mas sempre aos poucos e suavemente para não nublar a força de sabor do peixe e agora também, da generosa pimenta.
E por fim, o absolutamente inigualável azeite de dendê que é na verdade, o primeiro e quase fundamental ingrediente, coroou o encantamento com a culinária do nordeste e toda a sua magia afro-brasileira, sem o quê nenhuma moqueca é de fato brasileira.
Mas atenção: a mistura e o cadinho do doce e picante, do cheiro de mar, mesmo à distância, tem de ser saboreados com a alegria da hospitalidade, da amizade e do bem-viver. E claro, com uma taça de vinho…

Andrea Caldas.

http://www.gilsoncamargo.com.br/blog/?p=7289

Loreena Mckennitt - Penelope's Song 720p



Soon gone is the day
There upon some distant shore
You'll hear me say

Long as the day in the summer time
Deep as the wine dark sea
I'll keep your heart with mine.
Till you come to me.

There like a bird I'd fly
High through the air
Reaching for the sun's full rays
Only to find you there

And in the night when our dreams are still
Or when the wind calls free
I'll keep your heart with mine
Till you come to me

Now that the time has come
Soon gone is the day
There upon some distant shore
You'll hear me say

Long as the day in the summer time
Deep as the wine dark sea
I'll keep your heart with mine.
Till you come to me

Penelope's Song (Tradução)

Agora que a hora chegou
Logo o dia terá ido
Lá na distante praia
Você irá me ouvir dizer

Tão longo quanto o dia no verão
Tão profundo como o escuro vinho mar
Eu guardarei seu coração comigo
Até que você venha a mim

Lá como um pássaro, eu voaria
Bem alto através do ar
Procurando nos raios do sol
Apenas para procurar você lá

E na noite quando nossos sonhos são silenciosos
Ou quando o vento chama a liberdade
Eu guardarei seu coração comigo
Até que você venha a mim

Agora que a hora chegou
Logo o dia terá ido
Lá na distante praia
Você irá me ouvir dizer

Tão longo quanto o dia no verão
Tão profundo como o escuro vinho mar
Eu guardarei seu coração comigo
Até que você venha a mim

Muito prazer...


Em algum canto da alma, em algum recanto de jardim, o desacato feminino, intuitivo e passional se esgueira, espreita, insinua....
Docilizado, nos tempos das mulheres obedientes; sufocado, nos tempos das independentes...Reprimido nos meninos, desde a tenra idade.
O feminino oculta-se mas, não desaparece como parte da inteireza humana.
Renasce e atreve-se a cada encontro com a paisagem, com o mar, com o cheiro de terra, com a musica que toca, a poesia que encanta, o fogo que arde, a alquimia dos alimentos e ervas e a forja das artes...
Aqui um lugar para os redescobrimentos partilhados da sensibilidade subjugada, da magia reprimida, da intuição racionalizada...

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Refúgios e reencontros...Das brumas e do mar.


"A pilhagem, a redução do espaço e o esmagamento da natureza instintiva feminina... à semelhança da fauna silvestre e das florestas virgens... seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros".

Com esta introdução, Clarissa Pinkola Estès (Mulheres que Correm com os Lobos) nos convida ao redescobrimento do espaço do feminino, esmagado culturalmente nas mulheres e reprimido nos homens.
O processo de garimpo vem através do mundo das histórias tradicionais cantadas, resgatadas em laborioso trabalho de arqueologia cultural, depurados dos seus processos de degeneração "purificadora" por motivos religiosos e patriarcais.*
Estas antigas histórias, geralmente contadas pelas mulheres, são o roteiro da mina escondida que revelam pistas e abrem portas secretas para o reencontro com a velha sabedoria que se perdeu e transformou a mulher moderna, em um borrão de atividade.
A inquietante revelação guarda semelhança com o registro feito em Brumas de Avalon, que narra o esmagamento da cultura dos povos antigos, em que a intuição feminina, a magia e a alquimia tinham centro, pela dominação patriarcal romana e religiosa...
Estes desvelamentos me encontraram em tempos diferentes, de busca desta alma, em meio a lágrimas e intensidades e talvez, possam despertar conectar outras mulheres e homens... através de histórias, recantos e desacatos...

* Segundo Estés, no caso dos irmãos Grimm e outros colecionadores de contos de fadas dos últimos séculos, existe forte suspeita de que "purificavam" as histórias, cobrindo antigos símbolos pagãos com outros cristãos; os elementos sexuais eram omitidos, encobrindo mitos que explicavam mistérios antiquíssimos das mulheres. (p.31)