segunda-feira, 4 de maio de 2015

A OUTRA VERSÃO DA FÁBULA PEDRO E O LOBO – ou das “Artimanhas da Governabilidade Negociada”.


Pedro era um jovem, de uma aldeia de pastores. Há tempos, a pequena vila vinha sendo vítima do desmantelamento de seus rebanhos de ovelhas ante as vilanias dos lobos da região.

Pedro lançou sua candidatura a pastor oficial do vilarejo. Na campanha, apresentou as credenciais da coragem e valentia, e prometeu combater sem tréguas os inimigos dos rebanhos.

Foi eleito com o apoio massivo da população que não aguentava mais sofrer.
Logo na sua primeira missão, confrontou-se com a matilha. Pensou, calculou e achou que não teria forças para vencê-los, também não podia apresentar-se como derrotado ao povo que nele confiara.

Foi aí, que teve a ideia brilhante: negociar com os lobos.

Fez a proposta: “Vocês ficam com dez por cento do rebanho e me deixam seguir com o restante, sem lutas, sem conflitos”.

Os lobos acharam bom, o negócio.

Pedro voltou ao vilarejo e o povoado não percebeu que faltavam algumas ovelhas. Feliz, acreditou que sua estratégia era a melhor possível.

No dia seguinte, voltou a pastorear. Os lobos pediram 20%. O pastor titubeou, mas assentiu. Afinal, o povo não tinha notado os primeiros dez por cento.

E assim foi, a cada dia mais dez por cento do rebanho era entregue aos lobos.
Pedro voltava ao vilarejo, pacífico e solerte, e preenchia o vácuo com discursos inflamados em favor do patriotismo da aldeia e da resistência pacífica.

Quando ao final, restava pouco mais que 30% do rebanho, Pedro percebeu que já não poderia prosseguir e resolveu enfrentar a matilha.

Os lobos trucaram: “Você vai lutar sozinho contra nós?”.

Ao que Pedro redarguiu: “Vou chamar o povo da aldeia. Vou gritar é o Lobo, é o Lobo”.

O general dos lobos sorriu e disse: “Experimente chama-los. Vamos lhes contar que você tem negociado conosco, neste tempo todo. E afinal, eles nem mais lembram que existem lobos, não é?”.

“Bem - pensou Pedro- acho que eles já se acostumaram a viver sem algumas ovelhas.”




Um comentário:

  1. Olá Andrea, bom dia.

    A editora SAE gostaria de usar este texto em um livro nosso de história. Gostaria de saber como devo proceder para permissão de uso. Meu email é iconografia@saedigital.com.br

    Obrigado e fico aguardando

    ResponderExcluir