terça-feira, 21 de abril de 2015

FINANCIAMENTO PRIVADO DE CAMPANHA: entre o essencial, o secundário e as (supostas) hipocrisias.

Há tempos, o tema de financiamento privado de campanhas vem sendo objeto de acaloradas discussões.

Sob o caldo das denúncias, largamente divulgadas na Mídia, a condenação ao patrocínio de empresas privadas nas campanhas eleitorais tornou-se a palavra de ordem de vários setores.

A este respeito, a OAB ingressou com ação direta de inconstitucionalidade contra doações de empresas privadas a candidatos e a partidos políticos, que já obteve maioria dos votos do STF, mas encontra-se, há mais de um ano, engavetada, por desejo absoluto de Gilmar Mendes.

Em outra ponta, Eduardo Cunha tenta desengavetar a Reforma Política para dar-lhes ares de Contrarreforma e defende a legitimidade do financiamento privado.

Um e outro nominam este veto como hipocrisia, e alegam que o "financiamento público" beneficiaria quem está no poder, numa clara manobra discursiva destinada a confundir a opinião pública entre o que é Estatal e o que é governamental.

Enquanto isto, a esquerda disputa a legitimidade da pauta e ingressa num perigoso debate a decidir quem é mais verdadeiro, em seus propósitos.

Depois da divulgação de Resolução do Diretório Nacional do PT que proíbe o financiamento privado aos diretórios do partido, mas não estende sua decisão aos candidatos, vários foram os questionamentos sobre a efetividade desta posição parcial.

Alguns, dentro do próprio PT, questionam se isto não seria ingenuidade, pois ao adotar uma medida unilateral, sem a Reforma Política, o PT adentraria o terreno da desigualdade de condições de disputa. Outros, temem o acirramento da competição interna entre candidatos, com  maior ou menor poder “arrecadatório”.

Do PSOL, vieram questionamentos sobre a "parcialidade" da decisão, uma vez que os candidatos poderão continuar a receber as doações empresariais.

As respostas, dirigidas aos psolistas, recordaram que Luciana Genro aceitou, em sua campanha à prefeitura de Porto Alegre, doação de 100 mil reais da Gerdau, ferindo o que dispõe o Estatuto do Partido:
"Não serão aceitas contribuições e doações financeiras provindas, direta ou indiretamente, de empresas multinacionais, de empreiteiras e de bancos ou instituições financeiras nacionais e/ou estrangeiros."
  
Entre o equivoco de Luciana Genro e o caminho que o PT, agora parece buscar rever, inclusive, com a possível modificação do seu Estatuto, resta o mundo real que permanece em suas contradições, do lado de fora.

A contradição concreta, e não meramente discursiva, é que sem o fim do Financiamento Privado, as condições de disputa eleitoral continuarão definidas pelo Poder Econômico.

Se o PT lograr a modificação das suas regras coletivas e proibir a arrecadação de empresas, para o partido e os candidatos, o PSOL não poderá mais orgulhar-se de ser um dos poucos partidos a fazê-lo. Tampouco, os petistas poderão alegar, como a maioria sempre fez, que os "esquerdistas" são ingênuos e puristas e não entendem que para disputar o jogo eleitoral é preciso aceitar suas regras, inclusive de financiamento. 

Talvez, este seja um dos saldos positivos: o esfriamento destas mútuas acusações (outras, sem dúvida, surgirão).

A pergunta, contudo, é: o que isto, efetivamente, muda na disputa  e no sistema eleitoral, sem reforma estrutural?

Afinal, há muito mais coisas entre o céu e terra que a prodigiosa disputa de torcidas entre os partidários da esquerda.

Cunha, Levy e Gilmar Mendes que o digam - e realizem!.


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